741.5 / K773B / 2020
Beco do Rosário
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Primeira edição. --
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2020. --
É a década de 1920, e Porto alegre anseia pela modernidade. Carros, largas avenidas retilíneas, velocidade, gasolina e letreiros luminosos. Enfim, tudo que testemunhe e comemore os avanços da jovem República, deixando para trás a cidade colonial: os velhos becos, íngremes e tortuosos, onde se concentram os “marginais” da cidade, tão incensados pelas crônicas policiais da época; as velhas casinhas de beiral e as pedras irregulares das ruas. Para uma minoria eloquente, modernizar a cidade é acabar com esses traços do “atraso”. Para outros, esses espaços são a casa, com sua vizinhança conhecida, tão agradavelmente próximos às principais ruas do centro. O que acontece, então, quando posições tão opostas como essas provocam o reencontro de amigos de infância, apenas para separá-los ainda mais?
Pois esta é a história das grandes transformações da cidade vistas pelos olhos de Vitória, uma jovem moradora do Beco do Rosário que sonha em ser jornalista, e os irmãos Waldoff, Teo e Frederica, nascidos em uma rica família de imigrantes alemães. Apesar de terem compartilhado boa parte de sua infância, eles percorrerão caminhos diferentes, e será justamente com as grandes reformas urbanas que verão seus caminhos cruzarem-se novamente: Vitória, como uma jovem jornalista amadora indignada com os discursos da imprensa que difama lugares como o Beco do Rosário; Teo, como o jovem engenheiro prontamente unido às fileiras da Comissão de Obras Novas da Intendência, encarregada de demolir os becos e abrir largas avenidas; e Frederica, uma entediada dama da sociedade presa a um casamento frustrado.
Estas páginas retratam um momento crucial da infância de Vitória, e que a marcará para sempre: quando vê seu nome impresso como um apedido no jornal “O Exemplo”, ela tem a certeza de que seu caminho está traçado e passa a perseguir o sonho de escrever e ser lida nos jornais de sua cidade. Porém, ela sentirá aquilo que os discursos republicanos que apregoam a igualdade de todos os brasileiros não gostam de admitir: que o caminho para o reconhecimento será um caminho pedregoso para uma menina negra nas primeiras décadas após a dita abolição da escravatura no Brasil.
A história convida a uma reflexão sobre as formas de sociabilidade e as relações sociais que habitavam o espaço urbano do Beco do Rosário na Porto Alegre dos anos 1920. Inspiradas pela problemática da espacialização das relações de dominação de classe na urbanização das cidades e da incipiente presença do recorte de raça como central para compreensão desta questão, a autora convida os leitores a compartilharem de uma "ficcionalização do passado", na linguagem da história em quadrinhos. A partir da perspectiva da personagem Vitória a narrativa busca lançar luz sobre um imaginário possível do ser menina e negra nesta época e enfoca as micro resistências cotidianas de combate aos estereótipos e à discriminação acionadas pela menina. Esta produção de uma chamada "ficção controlada", propõe não apenas falar de um passado que se "inventa" a partir de fontes de pesquisa primárias e secundárias disponíveis no presente (relatórios da municipalidade, notas de imprensa, mapas e plantas oficiais, atas de vereança, desenhos e literatura).
ISBN: 9788595710726
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Inv.: 153326
S.T.: 741.5 / K773B / 2020